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Superdotação: Como lidar com a criança com habilidades bem acima da média

Segunda 08 de Setembro de 2014

Por: Dra. Sabrina Camargo

A superdotação é um tema que carece de atenção e de cuidado por parte dos professores e profissionais ligados à educação. Enquanto vemos muitas iniciativas voltadas para os alunos com rendimento escolar abaixo da média e o olhar de que somente esses precisam de acompanhamento diferenciado, há pouca ou nenhuma oportunidade para os alunos que se destacam por suas potencialidades. A educação destas crianças não pode ser tratada com menos importância. Sabemos quão prejudicial é a falta de estímulo das habilidades que, se desvalorizadas, podem gerar alto nível de frustração. 

Podemos considerar como superdotadas aquelas crianças que apresentam uma habilidade muito acima do esperado para a idade ou mesmo um talento único, a exemplo de um grande talento musical, enorme facilidade para desenho, rapidez no raciocínio matemático etc. A superdotação em mais de uma área é algo raro e bastante difícil de ocorrer. Normalmente, veem-se crianças altamente dotadas numa habilidade, como o raciocínio matemático, por exemplo, e continuarem sendo alunos com desenvolvimento mediano nas outras disciplinas.

Na maioria das vezes, pais e professores percebem essas características ao serem confrontados pela criança com questões que ainda não se esperava que ela fizesse por não serem condizentes com a sua idade cronológica. É importante frisar que, naturalmente, as crianças costumam ser muito curiosas e inteligentes e não é isso que a define como uma criança superdotada.

                A criança com superdotação e altas habilidades possui enorme talento em alguma área e muitas ou algumas das seguintes características: habilidade para pensamentos abstratos, grande capacidade de transferir aquilo que aprendeu da teoria para situações reais, grande capacidade de articulação, análise e síntese, tendência à liderança, criatividade, capacidade de compreender outros pontos de vista, percepção geral muito apurada, rapidez no raciocínio. Por sua vez, são essas mesmas características bastante desenvolvidas e aguçadas que a tornam intolerante ao meio, resistente à autoridade e com dificuldade de lidar com situações que considerem enfadonhas ou costumeiras.

                É um erro pensar que, mesmo com todas as características mencionadas acima, essa criança tem recursos para ativar, sozinha, suas habilidades. Geralmente, ela necessita de estímulos e de experiências que ajudem a desenvolver todo esse potencial. É preciso ter cuidado com o excesso de elogios e o achar que o sucesso da criança é obrigatório. Isso pode comprometer o aprendizado e até mesmo criar o desinteresse pelos estudos. Pais e professores devem lembrar que o desenvolvimento da criança é medido a partir dela mesma, e não em relação ao de outras crianças. É preciso conhecer as características da criança e pensar num ensino adequado às suas capacidades e necessidades. Dessa forma, ela conseguirá adaptar-se à rotina da sala de aula. Do contrário, a falta de estimulação levará ao tédio e aborrecimento que produzem, como consequência, diminuição do rendimento, desatenção, ansiedade, agitação, surgimento de comportamentos inapropriados e a estagnação das habilidades.

                O acompanhamento psicológico é fundamental para a criança que apresenta superdotação e altas habilidades. Com a ajuda profissional, ela conseguirá compreender seu lugar no mundo, desenvolver suas potencialidades e lidar com as pessoas a sua volta. É necessário desconstruir o estereótipo de “gênio”, que tende somente a atrapalhar a convivência da criança na medida em que, identificada com esse rótulo, pode passar a sentir-se superior às outras, ou mesmo estigmatizada pelos colegas, dificultando a convivência social e a formação de vínculos. É bom ressaltar que a criança com altas habilidades tem emoções e inexperiência de vida condizentes com a idade cronológica. Isso significa dizer que encontrará dificuldades, como qualquer outra criança, além de precisar desenvolver e fortalecer seu lado emocional. A criança superdotada não é um adulto em miniatura e não deve ser tratada como tal. Precisa ter seu momento de lazer, de brincadeira, de convivência familiar e social, porque, apesar de a alta habilidade demonstrar o contrário, ela é criança.

               

Sobre a autora:

Sabrina Gomes Camargo

Psicóloga – CRP: 03/03497

Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho - CFP

Especialista em Teoria da Clínica Psicanalítica – UFBA / BA

Mestre em Psicanálise – Universidade Paris 8 / França

Doutora em Teoria Psicanalítica – UFRJ / RJ

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